A noite começa com a banda de abertura que deixou algumas cabeças a funcionar - "Turbonegro... são portugueses não são?". Não, os Turbo' são da terra do bacalhau - Noruega - e inclusive pelo meio da actuação muito particular (antes de um concerto "mainstream" - seja lá isso o que for, right?) que fizeram, o vocalista perguntou "Do you want Bacalhau??!" LOL...

Tocaram algumas músicas que eu não conhecia, pois deveriam ser da primeira fase da banda - que já tem mais de 15 anos e parece ser a orgulhosa portentora da reputação de banda com maior legião de fãs a nível mundial... discutível provavelmente, mas eu sou um desses dígitos, é o que é certo -, mas pelo meio saíram uma mão cheia de canções da sua fase mais recente, mesmo assim caustica.
Uma boa parte da plateia deve ter ficado de boca aberta: "5 homens vestidos e pintados como fetishe carnavalesco homosexual à la 80s???". Yep, Tanto foi assim, como sem rodeios começaram com o verso 'guitarrado' "All my friends are dead!(...)", e logo quem foi apanhado de surpresa ficou em terrível desvantagem, sabendo quem os conhecia que seria o início de uma actuação puramente punk e cheia de versos provocadores. "Do you dig destruction" foi ainda legendada ao público num dos momentos de comunicação com o público como um tema acerca do modo de vida luxuriosamente decadente adoptada por muitas jovens adolescentes americanas - o que é um ponto muito interessante, visto que a jovem-mais-recente-aquisição-amorosa do Sr. protagonista e cabeça de cartaz foi protagonista do filme "thirteen" exactamente sobre esse mesmo tema de degradação adolescente.
Neste con'turbado e negro concerto, o vocalista mal se ouvia, e mal se preocupava com isso, a passear o seu manto de "peles" e o seu enfeite de couro cruzado no peito à He-man, pois os poucos fãs que lá estavam para os ver cantavam por ele, e os coros tão típicos do punk, estavam também presentes. Celebração animada sobre o caos e destruição, das prestações mais honestas no que diz respeito ao punk, existente nos nossos dias, capaz de orgulhar os pioneiros.

passaram-se uns 40 minutos. Um pano enorme, do tecto ao chão caído, preto e com os M's ensanguentados da nova linha gráfica Marilyn estavam entre nós e o que quer que se passasse no palco.
Passado esse tempo, uma silhueta provocou um trovejar de gritos, e a calma com que aquela silhueta acolhia os gritos, imperturbável, era familiar e inconfundível. Cai o pano, e começam as pulsações manchadas de negro. "If I was your vampire", com um Marylin a segurar impaciente uma faca com microfone no cabo, Ginger Fish regressado à banda por trás da bateria, o novo braço direito do Brian, desde o Golden Age of Grotesque, Tim Skold, na guitarra apesar de ter começado originalmente como baixista, o fiel MW Gacy nas teclas, e no baixo, um elemento novo também vestido a rigor.
Todos dentro do espírito original da banda, de "debaucherie" degradante e demente, onde Manson era quem mais se destacava como elemento mais sóbrio lá no meio. Um sorriso de satisfação rasgava a cara do A.Superstar, tal deveria ser a satisfação de ter elementos atrás de si dispostos, até mais do que ele quereria há uns bons meses, em manter a chama agressiva da banda bem viva. De um dia natalício nostálgico e assombrado, o bater do ritmo inquietante e dos movimentos 'espásmicos' do vocalista, a orientação do braço deste da direita para a esquerda dá lugar a um enorme relógio que substitui a meia lua gigante que forma o cenário. Não decepciona, uma das melhores músicas do novo álbum, e a conclusão explosiva é isso mesmo, acabando como um embate perfeito e limpo. Até dava a sensação que faltava alguma coisa... E faltava, mas não por muito tempo.
Uma entrada explosiva para "Disposable teens" colocou o resto dos fãs perplexos numa fúria entusiasmante, e as vozes já começavam a verdadeiramente aquecer para os hinos, satisfeitos que começavam a ficar os fiéis da frente que acolhiam com agrado uma das malhas mais cruas de um artista que sempre soube como golpear feridas. Sem grandes rodeios; apenas, começou, explodiu, e toda a gente aplaudiu.
Logo de seguida vinha uma das primeiras intervenções com o público "Sing: "Be mobscene, Be-he mobsc.." e já todos sabiam o que fazer. Single pesado com contornos de festa - não fosse um dos versos "put on your best suit" -, que apesar de roubar o refrão à "Be agressive" dos Faith no More, conseguiu pôr toda a massa em coro e com vontade de ser recompensada com tudo aquilo a que tinham direito, tal foi o entusiasmo com que o público recebeu esse malgorado-hino/presságio vindo do G.A.o.Grotesque.
E não podia ter havido melhor recompensa para um bom fã de Marilyn, do que duas grandes músicas do seu mais consensual disco, seguidas.
"Tourniquet" explodiu no meio da plateia, e conseguiu paralizá-la para a fazer olhar o protagonista quando já eram os seus pulmões que entravam em combustão, tal era a fidelidade do cantor para com os gritos de um grande hino. Sinceramente, um dos melhores momentos de qualquer concerto de Marilyn Manson a que assisti - e não foi preciso artifícios. Surpreendeu quem dele duvidava, e provou que está em grande forma. Os músicos oscilavam entre um cambalear rítmico e uma atitude vigorosa, que não deixava entrar uma única falha que fosse no intrumental. Era fantástica a satisfação na cara do Ginger Fish(bateria), por estar de volta àquela casa. E notava-se a devoção que o novo braço-direito do Brian dedicava aos clássicos.
Tudo isto voltou a ser sublinhado com mais um momento em que apenas duas coisas eram precisas: a música, e a presença descomprometida de quem a toca: "Irresponsable Hate Anthem". Brutal. Por esta altura eu já nem sabia quanto tempo tinha passado, o que viria a seguir, nada... A plateia era um circo, e eu fazia parte dos que estavam a ouvir e a ser ouvidos. Tudo o que havia para descarregar, fora logo ali descarregado; palavras, gestos... dois momentos muito intensos, e inesquecíveis, principalmente para alguém que esperava apenas encontrar uma sombra do que este artista já foi. Fica a prova de que se o é, é apenas porque quer, e que continua a ser ele mesmo. Sem palavras sobre esta combinação "Touniquet/Irresponsable..."
Só por isto já havia valido a pena.
"Are you the rabbit", do novo álbum, fez muita gente matutar nas características 'Portrait of an American Family' que o novo álbum ainda consegue transpirar, enquanto dava um dos melhores momentos do espectáculo: Uma cadeira gigante servia de palco para Manson, que, minúsculo nela sentado, contorcia-se e praticava uma espécie de table-dance-tosca e surpreendente, enquanto cantava, fazendo sempre lembrar o tema Carrolliano, de "Alice no país das maravilhas", em que o título era evidentemente a pista necessária para a associação, e onde o verso "Faster, I'm late, I'm late" só fazia os fãs insanamente espumar pelo que quer que de clássico viesse a seguir àquele momento verdadeiramente hipnótico. Sempre que alguma música recebia a cumplicidade de um artefacto de palco, haviam segundos de espera; nesses segundos, tudo ficava preto...
...de entre o preto, uma das primeiras conclusões seria tirada: depois da ressaca, e de entender que precisava da música e do público, Manson percebeu que deveria dar ao público o que é do público. Daí, que, visto que algumas músicas já não lhe pertencem e passaram a fugir da boca dos seus fãs, tomou a iniciativa de lhes dar logo a eles à partida esse protagonismo.
É através do escuro, apenas com binóculos iluminados na cabeça, que banhavam luz sobre o público - a única fonte de iluminação -, que começavam os primeiros acordes de "Sweet dreams". Ele cantava, mas ninguém o via, e não era importante. Os iluminados, que também cantavam, em coro, eram a quem ele dava mais importância nesse momento. Aos poucos as luzes começavam a iluminar os músicos, e no segundo refrão, o poder já tinha sido entregue por completo ao anfitrião, que após um momento de interacção com o público, roubando da esquerda, da direita e do meio os tradicionais versos em coro, dava início à intromissão da antiguinha "Lunchbox" na inacabada versão dos Eurithmics, com o público a conceder os seus "I wanna grow up, I wanna be, a big rockin' roll star!...". (Dá ideias...) E arranca assim até ao fim da música do 'Portrait..' onde o público já rendido, só esperava mais música para celebrar.
Tudo preto, novamente, e viam-se uns delimitadores de "passadeira vermelha" a serem colocados como que a delimitar um ringue e um microfone que descia de cima. "Fight song"! Ainda alguém estava com adrenalina a mais? Manson em robe-de-boxe rompia clichées enquanto o Pavilhão Atlântico se transformava num mar de "Fight, Fight, Fight, Fight(s)..".
Depois de tal prenda de natal com 3/6 (já)clássicos quase seguidos, o público recebeu de braços abertos uma das mais polémicas(a nível de qualidade de composição) músicas do novo álbum. Não importava, ele tinha esse direito. Era ela "Putting Holes in hapiness".
Soou bem. Logo de seguida, mais uma nova. A do videoclip com uma menina de óculos aos coraçõesinhos: "Heart-shaped glasses". A actuação desta música, na íntegra, foi uma coisa muito interessante. Primeiro, a nova musa do pálido Manson estava presente, e a filmar, imagine-se, com os ditos óculos postos (não era encenação, pois só que estivesse muito perto do palco é que via :'P ), e o Manson ao ver aquilo passou-se. Foi ter com ela, todo lamechas, cumprimentá-la como deve ser.. e depois... nem sabia o que havia de fazer, se voltar para o meio do palco, se que fazer. Pobre Manson, ela dá cabo dele. lol... Ele bem que punha as mãos à cabeça e suspirava ainda a música se preparava para lhe dar espaço para ele começar a cantar e ele ainda indeciso... Lá atinou, profissionalmente em fazer o que lhe compete, mas... não ficou por aqui. Naquilo que foi um dos raros momentos, no que diz respeito a concertos deste calibre em Portugal, uma menina às cavalitas do seu D. Quixote foi generosa com o sr. Manson, que não parava de desenhar círculos no ar a sugerir alguma coisa. E ela mostrou alguma coisa. E o Manson também foi generoso e... lol... atirou-lhe uns óculos aos corações (iguais aos da sua amada), que entusiasmada fã imediatamente colocou nos olhos.
Quem diria que um single radiofónico em concerto daria lugar a situações interessantes como estas. :')
Se não estou em erro... pois já estava mais perdido, do que encontrado, a "Dope Show" entrou guiada por o som de sirenes. O que deu logo ambiente à coisa. (apesar de tudo)É uma música do 'Mechanical Animals', está tudo dito... "debaucherie à la chanson"(don't ask, acabei de inventar... X'D= )
Mas ainda havia mais uma do 'M.A.' na cartola, e então apareceu um Manson de chapéu de Cowboy-das-petrolíficas/ou-então-das-editoras, e colete a condizer, com armas desenhadas, se não me engano (I'm confused..) a cantar "The Rock, is better than deead!" As luzes davam o ambiente fantástico que era necessário, tal como durante todo o concerto, e só faltava vê-lo lá vestido como no videoclip para a banda sonora do Matrix, mas os olhos estavam lá, com a tira vermelha desse visual a marcar presença.
Ainda houve tempo para uma introdução com a misteriosa última faixa do 'Antichrist...' a passar em tape/gravação. A tal em que ele apenas diz qualquer coisa que muita gente não percebe e todos especulam sobre o que seja.
Daí a banda entra para a música do púpito - "REFLECTING GOD". Ele é político, ele é personalidade em conferência de imprensa, ele destrói os microfones todos, mete-os abaixo, atira-os ao chão, e pende melhor do que uma marioneta quase a cair do tal púpito ao chão. O sermão é debitado, as almas que ainda penam pela plateia não penam de forma alguma; era mesmo aquilo que todos queriam. (Bem... alguns ainda reclamam, mas todos têm consciência que já foi muito bom mesmo assim..) Minutos de extrema intensidade, em que o clássico dos clássicos, entre os temas, é abordado, e todos juntam a sua voz à de Manson, até que quando menos se está à espera, ele, já descido do seu "altar" é erguido por uma plataforma, quase até ao tecto - no joke - enquanto debita "Salvation!", e ninguém tem coragem de tirar os olhos da sua figura, olhando para cima, como se fosse ele o seu... pois, mas isto é só entretenimento, e todos jogámos muito bem o nosso papel. Bem.. pelo menos à frente, pois o resto já não sei. Sei que uns senhores da Antena 3 reclamam que o público foi morno - não à minha volta!
Acho que ainda a sair do púpito, ele tinha uma "bíblia" na mão que, para variar, entrou em combustão mal ele a abriu - the usual show off; sempre bem-vindo.
Mais... ainda houve tempo para um "Antichrist Superstar", em que ele nos dita "REPENT!"... e eu realmente arrependi-me de tanto pensar que ele estava mais para a reforma que outra coisa. E no final, ninguém sentia que já era o final, daí que pedimos e houve o encore. Infelizmente foi só uma música. Felizmente, soou fielmente reproduzida, e nem quis saber que fosse a bilionésima vez que a ouvia.
"The Beautiful people"

X')