Não sei os nomes deles(os senhores que integram a banda) de cor, e das músicas - apesar de conhecer bem os álbuns(tirando o Sehnsucht, reparo agora... ) - também não sei escrever o nome de metade delas. No entanto, vou-me esforçar para passar parte do que se passou:
Tudo preto.
Enquanto isso, ouve-se um zumbido que quer soltar um qualquer canto religioso, como um coro de canto gregoriano distorcido e sombrio. Só esse zumbido, os "gritos" dos fãs e preto.
De repente vê-se um feixe de luz a romper por trás de algo. Uma "parede". Por trás da parede começam, do lado esquerdo e lado direito a partir o caminho para entrar no palco. O efeito é semelhante às cenas da chegada de alienígenas nos filmes de ficção científica: a nossa visão é completamente ofuscada e só conseguimos perceber contornos de uma silhueta por entre o branco que rasga a parede/cenário. Quando os dois guitarristas finalmente entram em palco, uma rebarbadora(suponho) faz faíscas por entre a escuridão ao centro, cortando aquilo que uma forte patada revela ser uma porta de metal, que cai com um estrondo e os músicos restantes tomam posições.

Quando damos por nós já o vocalista Till(vestido como um talhante em tons de vermelho e preto) entoa a melodia à capela inicial de "Rammleid". Entrada triunfal. Os coros que o público entoa "Ramm.. stein" não enganam; apesar das críticas que se possam tecer os Rammstein continuam a ter a mesma convicção para ecrever temas onde se orgulham de ostentar o nome da banda tanto como os Body count também faziam. E o público recebeu-os condignamente, numa casa cheia.
Não sabia era que, este se tratava do 1º concerto da tour que a banda está a fazer; e bem vistas as coisas, provavelmente o 1º concerto a sério desde o hiato da banda.

Duas outras músicas(bem cruas) do novo álbum se seguiram e então, para deleite dos fãs, chegou a primeira faixa realmente familiar. Do Reise reise, chega-nos "Kine lust" com uma reacção em frenesim completo. Puro músculo em forma de música.
'Bang Bang' e, com a familiar "Feuer frei!"(Mutter) começa aquilo que os mancebos ainda ansiavam por presenciar: o espectáculo de fogo tinha então início. Lança chamas anexados à cara dos guitarristas, cuspidos como que pela boca destes davam o mítico ambiente surreal que tornou a banda lendária em palco. Com mais uma explosão tudo fica vermelho. Caem faíscas como verylights no Apocalipse now por entre as trevas de um céu negro, tudo em tons de vermelho, com o vocalista a olhar o céu, colado, a leste do público - muitas vezes assim esteve. E logo a potência do refrão assalta de novo o Altântico para o ritmo dos riffs e duo baixo/bateria soberbamente mecânico e entranhado de anos de espera.

Turbinas enormes descem sobre o cenário enquanto mais uma música familiar, no caso "Wiener Blut"(?..), foi seguida de mais uma nova - foram tocadas 9! do novo disco, ao todo. Nesta(se não estou em erro foi neste momento) bonecas/nenucos desceram pendurados e se mantiveram suspensos como que numa composição macabra(ao longe deve ter funcionado melhor) por entre toda a escuridão, como que executados, alguns com lasers a sair dos olhos, ou por onde calhasse, directamente para o público. No final da música, como que servindo de acompanhamento para o encerramento desta, "explodem" alternadamente, completamente sincronizados
com o ritmo.
"Frühling in Paris", do novo álbum, foi um derradeiro sucesso no que ao espectáculo completo diz respeito: por entre as sombras(sempre as sombras) uma lâmpada acende-se e frente à elevação da bateria, constituída por texturas de caixas de madeira e material que não seria alheio a um esconderijo sinistro, apenas se vê iluminado o vocalista e o baixista(que dá os acordes iniciais numa guitarra acústica). Desse ambiente de adega sem iluminação a música rasga para algo completamente diferente, em que o refrão atinge um dos momentos mais apoteóticos do espectáculo, com as melodias a inspirarem algo de angelical, completamente correspondido por luzes brancas e azuis libertas a atravessar as turbinas que, direccionadas para o público, criavam um vendaval "redentor". Claro que ao segundo e último refrão, a receita não teve exactamente o mesmo efeito, mas a surpresa completa deixou-me absolutamente rendido. Era como um musical, e eles nem precisavam de mais do que apenas um narrador.

"Ich Tu Dir Weh", a minha favorita do último álbum. Quase parece desperdício juntar dois momentos chave como estes, mas na verdade foi um combo que só ajudou que cada vez mais se tivesse vontade de conhecer estas novas pregações dos alemães. Em jeito de "bad me"/"good you" Flake, o teclista, atira-se para o palco fazendo o que pode para irritar os músicos, principalmente o vocalista, e este responde dando-lhe uma lição, sob fogo. Primeiro, carrega-o em ombros a uma banheira, onde o afoga. De seguida, quase como que se tal gesto fosse para o salvar(à vítima, claro:) sobe numa estrurura que é elevada a uma altura que faz lembrar a "3ª prancha" e de lá, a acompanhar o refrão que dá mesmo vontade de cantar(mesmo não sabendo patavina de alemão:) Till despeja um bidão de "fogo" em faíscas sobre a dita banheira, incinerando o colega, que incólume voltou às escondidas para o seu posto a tempo de continuar com a música seguinte; mais uma música nova.

Quando o público ouve o som de pés a marchar, já todos sabiam exactamente qual o hino a entoar - "Links 234". Numa música como esta quase não é preciso qualquer artifício; é grande aquele solo(minimal) de guitarra no final da música.
"Links" é logo de seguida cercada por mais um tema novo. Mais um que, apesar de ainda desconhecido do público, na estrutura quer dos riffs, quer da sonoridade ambiente não deixa esmorecer a festa, muito pelo contrário: apenas abriu o apetite para uma "Du hast" cantada em uníssono por todo o pavilhão, ao ponto de Till apenas se deleitar a ouvir antes do 1º refrão e de, no final de uma participação tão apaixonada do público agradecer na sua língua mãe com um ligeiro baixar de cabeça e mão no lado esquerdo do peito.

Algo que nem uma banda nos seus sonhos mais selvagens pode sequer imaginar com exactidão.
Entre todos estes temas, muito fogo foi cuspido do chão, o restante cenário aparece - uma imagem em profundidade de tubos emaranhados uns nos outros formando uma bizarra paisagem citadina desolada e industrial, ao género das galerias no Matrix.
Após um ambiente relativamente coerente - se tirarmos o fato prateado do teclista, as suas danças, o "crowd-'lancha'ing"(lol) e o tapete rolante no qual exercitava enquanto tocava nos seus mais de 4 teclados - chega enfim o tema do polémico videoclip, "Pussy".
Muitos curiosos devem ter contribuído para a lotação do concerto, talvez à espera de algo que só um leigo na matéria esperaria, e que viram a sua recompensa num... microfone cercado de vibradores(algo que a banda repete na versão Box do novo álbum; as ditas edições especiais com posters, t-shirts, discos bónus, livros... desta vez traz outros tipos de bónus).

Esta seria completamente dispensável, pois tirando o conteúdo lírico, parece mais uma música de festa e festival da canção(aquela melodia/som de teclado...). Mas enfim, valeu pela banhoca que o vocalista nos deu no fim, montando-se num canhão que circulava num carril que seguia da extremidade esquerda à extremidade direita do palco, por onde ia apontando e disparando espuma conforme sua vontade. Assim que esta caía, simplesmente molhava. e como este percurso atingiu quem estava mais à frente umas... 4/5 vezes... a "linha da frente" acabou completamente encharcada.
Confetis caíram para sublinhar ainda mais a atitude 'party'.
"Benzin" tinha boas intenções, mas acabou por não se sobrepor ao impacto festivo que a anterior havia deixado, ficando uma sensação agridoce.
No entanto deu esperança a quem acreditava que era possível esquecer o 'malogrado' single e, apesar de terem abadonado o palco em jeito de final, o público pediu encore, duas vezes - e duas vezes o teve :)
"Sonne" e "Ich Will" fizeram maravilhas por quem, como eu, vê no Mutter o melhor cd que eles já fizeram e, no segundo encore, recuperaram música para velhos fãs, tocando "Seemann" do 1º album, e "Engel" do seguinte - a música do assobio -, durante a qual foi possível ouvir uma das melhores linhas de teclado que Flake compôs para a banda, apesar de, nesta versão, ser em modo drum'n'bass.

Acaba o concerto e ainda se ouvem assobios. Mesmo depois de a banda se ter despedido em jeito de vénia conjunta, depois de acenderem as luzes, depois de sair do PA, depois de passar pelos roadies que vendiam posters ao "preço da chuva"(5€?, lol) ainda se ouviam os assobios.
Chega-se ao fim meio esgotado e sem conseguir pensar muito, mas com a certeza de que ainda se tem muito para saborear e recordar.
"Ramm... Stein!"
2 comentários:
nem sei o que dizer: por um lado, com a tua descrição fiquei com a sensação de que também estive lá; por outro lado, fiquei verde de inveja...
Eins
Hier kommt die Sonne
Zwei
Hier kommt die Sonne
Drei
Sie ist der hellste Stern von allen
Vier
Und wird nie vom Himmel fallen
Estou doentito a cantar correctamente - lendo I mean- pela 1ª vez e até me arrepiei... Acho que já fiquei um pouco melhor! :) Thank you :)
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