Porque o tempo passa e as impressões ficam, nem sempre as boas, mas principalmente as boas, as saudades medem-se pelas experiências e pelo convívio que se aproveita do mesmo tempo. E passadas semanas começam a aparecer os sorrisos, passados meses começam a partilhar-se memórias, passados anos as mudanças cruzam e descruzam caminhos numa cumplicidade que quase não precisa de palavras mas algumas descem intensas. Passada uma década é como se algo estivesse lá sem se ver, um conforto que se sente mas não tem palavras, e ao mesmo tempo nos diz que somos x(vezes) esse número de vozes inaudíveis que nos fala sem som. A aproximação física pode ter mais do que a gente imagina. Um jantar silencioso; um momento tenso e surdo num jogo de futebol em momento de penalty; o não estar só numa silenciosa hora sacra de trágica peça de teatro, ópera, ou concerto de câmara.
Alguns designam isto de 'química', também responsabilizando a expressão pela afinidade ou não entre indivíduos.
Mas tudo chega a um fim, e os sorrisos já não estão próximos, as memórias ofuscam-se e o tempo apaga a cumplicidade, subtituindo-a por reconhecimento.
E um dia reconhecerei também quem fui, e direi a mim mesmo que ainda o poderia continuar a ser, mesmo que saiba que o que sou me puxa de volta para aquilo em que me tornei. E isto acontece com mais do que um, mais do que dois, e mais do que quantos possamos contar, pois a vida é feita de mudanças e dificilmente podemos recuar.
Mas fica o que sentimos, porque sempre a reaproximação acontece, e quando se dá, o coração ilumina-se da mesma maneira que (aquele que será denominado de)noutro tempo, nem que por breves segundos. E cada segundo conta.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
eu continuo a achar que nunca mais seremos os mesmos que éramos antes de nos cruzarmos...
e isso é uma delícia.
se estivesse grávida tinha-me desfeito, como não estou posso gozar do estatuto de ser a croma sentimental do costume.
é sempre bom lembrar e sentir que "cá estamos".
a verdade é que vamos estar sempre perto, sempre aqui*
espigãoãozarrão, deixaste-me sem palavras...bolas.
Afinal não sou só eu que sinto isto, afinal tu também sentes. Não é que eu não soubesse, já tinha uma forte desconfiança. Mas ter a certeza que é mutuo é uma alegria indescritível!
Uau... Acabei de ler pela 3.ª ou 4.ª vez e continuo maravilhada... Não me lembro de alguma vez ter ficado tão emocionada e deslumbrada depois de ler um pequeno texto. És verdadeiramente impressionante, amigo Espigão. A forma como escreves é incrível...
Quanto às saudades da nossa LJ, bem... Dizia eu à nossa Dona Rosita que o sol que nos aquece todos os dias no CM tinha perdido um dos seus raios claros, fortes e brilhantes. E essa perda deixa marcas, claro. Estamos mais pequenos hoje. Mas não faz sentido continuar assim -- o que faz sentido é lembrar que a LJ está a lutar pelos seus sonhos e com isso só podemos estar felizes e entusiasmados por ela. Este é apenas um dos motivos que nos leva a admirá-la.
Enviar um comentário