quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Caminhos

- Poderia dizer-me, por favor, que caminho deverei tomar a partir daqui?
- Isso depende muito de onde queres ir - respondeu o gato.
- Não me interessa muito onde - respondeu Alice.
- Então não interessa que caminho tomar - disse o gato.
- Desde que chegue a algum lado - acrescentou Alice, à laia de explicação.
- Oh, e chegarás, com certeza - afirmou o gato - se andares o tempo suficiente...

("Alice no País das Maravilhas", Lewis Carroll)

..........................

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...
(...)
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

("Cântico Negro", José Régio)


2 comentários:

Mamã disse...

Eu sou um gato e não sei para onde vou. Demoro sempre tempo demais a chegar. E depois fico com a sensação de que parei na paragem à frente. Aquela que não era a minha... (Ah, ah! Não sinto nada disto, mas saiu bem dos meus dedos das patas e da cabeça e pronto.)

Na verdade, acho que paro na estação correcta. Só que nunca me satisfaço com ela e busco outra, que pode não ser uma à frente... Pode ser uma ao lado.

Anónimo disse...

pois... a questão é que, efectivamente, para chegar a algum lado basta caminhar o tempo suficiente, mas para sabermos para que lado queremos irá coisa é bem mais complicada... e, por vezes, no meio das tentativas que nos vemos forçados a fazer, acabamos por sair na paregem errada. mas o que é mesmo mesmo mesmo importante é saber quando dizer "Sei que não vou por aí". sempre achei e continuo a achar que mais importante (leia-se "crucial") do que sabermos o que queremos é (1) sabermos o que não queremos e (2) não nos contentarmos com andar ao sabor do vento.
penso eu de que...