domingo, 8 de abril de 2007

"Menino" está para "miúdo" como "ser humano" está para "pessoa"

No início, quando às minhas perguntas sobre "miúdos" a professora de ganchos cor-de-rosa me respondia com "meninos", não conseguia deixar de me sentir uma espécie de herege, alguém que não sabe que as crianças merecem respeito e que as rotula de algo que as diminui. E ainda fiz algumas tentativas para me redimir, mas não batia certo, soava-me estranho.

Para mim, eram e continuam a ser coisas diferentes:
- "os meninos aprendem a ler" / "os miúdos sobem às árvores";
- "o A. é um menino muito inteligente" / "o A. é um miúdo fantástico";
- "ele é um menino sorridente" / "ele é um miúdo feliz".

E as crianças que eu sempre imaginei estarem no lado de lá das Valérias, dos Biscoitos e dos Patatoons são miúdos. São miúdos que ao eterno "És fantástico!" respondem "Pois sou!". São miúdos que não sabem se a professora é a personagem ou se é a personagem que também é professora. São miúdos que acham divertido fazer tabelas de multipla entrada com tabuada de multiplicação.
Para mim, de facto, "menino" está para "miúdo" como "ser humano" está para "pessoa" -- o 1.º pode ter mais dignidade mas o 2.º tem mais calor, é mais real e palpável.


E depois de ler "A criança que não queria falar" (quem inventa títulos destes devia levar com um piano em cima) não posso deixar de pensar que também há miúdos que nunca tiveram oportunidade de serem meninos, que mesmo com vestidinhos de folhos continuam a ser "pequenos montes de carne".

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